Eu abri minha janela
Olhei o céu tão bonito
Meu pensamento voou
Nas asas do infinito
Cruzou vales e campinas
Mataria e cerrado
Depois desceu de repente
E pousou suavemente
Lá no chão do meu passado
Meu cachorrinho paqueiro
Que eu criei na mamadeira
Sentindo a minha chegada
Esperou lá na porteira
Saltitante de contente
Em meus braços se atirou
Enquanto ele me lambia
Parece que ele dizia
Foi bom que você voltou
Do portãozinho da sala
Tirei do prego a corrente
E entrando devagar
Segurando nos batente
Meus olhos encheram d'água
Quando vi mamãe sentada
Naquele mesmo banquinho
Remendando com carinho
A minha roupa rasgada
O retrato preto e branco
Na parede pendurado
Eu no colo de mamãe
E o meu pai ali do lado
A sala de chão batido
E a nossa linda mobília
A mesa e quatro cadeiras
Lá num canto a cristaleira
E um velho radião à pilha
Na despensa da cozinha
Benza Deus quanta fartura
Carne de porco na lata
Misturada na gordura
Fornada de pão caseiro
Que a mamãe fez caprichado
Fiz uma prece pra ela
Depois fechei a janela
E fui dormir sossegado