(Numa noite de luar
Um lindo cantar se ouvia
Longe o eco respondia
Dentro na mata fechada
Relembrando algum passado
Que já foi e não existe
Aquele caboclo triste
Cantava esta toada)
Lua cheia que clareia a verde mata
Venha e tira do meu peito esta paixão
Sou aquele desprezado que padeço
Sem consolo, sem abrigo e sem perdão
Já não canso de chorar mais neste mundo
Não resisto esta minha grande dor
Peço à morte que me tire desta vida
É somente o que merece um pecador
(Enquanto eu escutava
Aquele cantar dolente
Silenciou tão de repente
Nada, nada mais se ouvia
Ansioso e desesperado
Saí pra aquele lado
No rumo que a voz nascia
Bem lá volta da estrada
Um vulto branco avistei
Quando mais perto cheguei
Reconheci quem padecia
Era um pobre seresteiro
Que ali caiu cantando
E pra mim falou variando
Na derradeira agonia
Seu moço, este lugar é deserto
Não tem vizinho perto
Que possa me socorrer
Mas o senhor mesmo sozinho
Me guarde neste ranchinho
E acabou de morrer)
Quando foi no outro dia de tardinha
Um cortejo conduzia o seu caixão
Foi-se embora pra sempre o seresteiro
A voz mais linda que encantava o sertão
Escreveram no violão deste poeta
Uma letra que ele mesmo rimou
Foi a última toada sertaneja
Que no dia de sua morte cantou