Borrasca
(João Morgado)
Porque será que continuo abrindo a alma?
Matizando a áurea do ânimo com desejos
Porque teimo em amar só quem me acalma
Porque dos seus lábios, nascem beijos!
Berro aos ventos com os sentidos despertos
E pinto na aguarela do meu sonho emoções.
E no espírito destas tormentas faço acertos
Na ânsia de que me levem as desilusões
Deixo assim que as rajadas afastem mais
Todas as mágoas dum amor quase desfeito
E dos meus lábios, nascem beijos como ais
Gritos de uma vida sem ti, me abrindo o peito
Esta distancia que separa o som desigual
Como o do ferir das ondas nas fragas
De uma presença que és tu no areal
Contando a gesta dos teus medos e sagas
Conta antes uma história bela e amorosa
Dessa boca em gestos sentidos na magia
Dum por do sol escrito com linhas de prosa
Não sei porque choro, será da alegria…
É que para mim são beijos, esses na alma
São gritos ao vento de lágrimas de sal
Insisto assim sulcando mares na calma
Desta borrasca louca, numa cantilena irreal
Porque sonho e desejo, não sei, é possessão
Como os versos que eu rabisco aqui…
Completam-me em alguém em comunhão
Desta canção de amor que tenho em ti
Mas vou até que um dia, um dia esta canção
Será balada, com letra de sonho e harmonia
Quando as palavras escorrerem das mãos
Qual areia fina, que o sol queima de dia
João Morgado