São montanhas, outros mares
Tais distâncias que nem sei
Se é só por me amares
Ou outras coisas similares
Mas o certo é que não te encontrei
Eu te aguardo, eu te chamo
Mas tu não estas mais aqui
Ó tristeza esta a minha, se te amo
Tanto, que bem alto o proclamo
Nem esta distância me afasta de ti!
No peito tenho um sonho puro
Que aflui de carinhos e de festas
Que este meu coração duro
Teima em buscar o que procuro
Nos encontros a que tu te prestas
Tudo o que tenho é haver sofrido
E agora és tu, me parindo esta dor
Neste meu delírio digno e perdido
Encantado, belo e arrependido
Do meu amor, do meu amor!
És o meu sonho mau p’la lonjura
Nem numa hora destas de solidão
E por me deixares nesta noite escura
Aqui em frenética amargura
Num sufoco, apertando o coração
Anda, vem fazer-me um carinho
E nas ondas deste mar bravio
Com cheiro de verde pinho
E perfume de rosmaninho
Qual garranhão em pleno cio
Traz esse sorriso de amante-menina
E mostra p’ra mim em véu azul
Esse corpo de mulher felina
Com brios rubros de purpurina
Para que eu ai me emule
Não consigo mais esperar
É dor, carpir, sofreguidão
De amores e loucuras me dar
Qual sinfonia em pleno ar
Neste amargo da razão
É loucura a mais na dor
De sonhar-te e bem querer
Que nem o sol com seu calor
Me aquece neste frio rubor
Ó meu amor, ó meu amor
João Morgado