João Morgado)
Oh poesia que o que os outros não dizem, és tu que dizes,
que nem escrevendo na casca das arvores te chega!
Se nem emergindo te libertas das raízes,
dessa arvore, escrevendo, onde o teu braço sossega.
Transformas a dor em música, nessa bruma
reproduzida nos livros cheios de promessas de libertação,
em que até o som do grito ameno, que dai assuma,
vira inquietude e sublimação.
Soltar a voz libertando a primavera das alforrias,
que sempre se apossa nestas coisas do ócio
e assim deixar ao vento alegrias
que digam que da poesia eu não me divorcio.
Fico fiel sem explicar o que nasce puro,
nestes traços, saídos do coração
e se ainda assim me disserem que sou perjuro,
liberto-me do texto, da porfia e viro solidão.
Porque poeta é aquele que fragmenta a dor,
e assim, nessa embriaguez cai e o sol nasce do chão.
E com isso leva os outros ao amor.
De quem já ama, mas não pode, ou não tem condição