Bravo, Salgueiro! Tem a honra de cantar
Primeiro palhaço negro da cultura popular!
Abram as cortinas, que um beijo eu vou te dar
E, na academia, o show tem que continuar!
Respeitável público, prepare seu coração
Céu de lona e chão de estrelas iluminado
É pura emoção!
Vou fazer você sorrir quando o desfile começar
E, ao sim da furiosa bateria, vou me apresentar
Moleque beijo, já nasci alforriado
Mesmo antes do tratado, era pura ilusão
Meu pai, capitão do mato
Mamãe sempre ao seu lado, cativa de estimação
Eu, com destino traçado
Por Sotero encantado, me tornei nego fujão
Aprendi desde menino
Com o mestre Severino, a cair e levantar
Mas quá! O danado do ladino
Por um simples equino, se dispôs a me trocar
Minha arte eu provei “pro” fazendeiro
Frutuoso picadeiro agora é meu lugar
Chula, canto e danço
E recebo afinal
Os cumprimentos do ilustre marechal
Na bela época
Fui Peri de Alencar
Já fiz mouro de Veneza
E a viúva de Franz Lehar
E do cupido do oriente, quem diria?
Surge momo o rei da folia
Eu, consagrado brasileiro
Rei negro picadeiro, vindo de Minas Gerais
Hoje chego ao Salgueiro e tenho paz
Juro que daqui não fujo mais!