Sou Porto da Pedra de volta pra floresta
Felino ferido, destino vencedor
Minha tribo vem dizer
Pra quem acha que um dia nos venceu
A luta apenas começou
Vez em quando a ganancia se anuncia
Veste feito rainha pra seduzir brasileiro
De vez em sempre tem uns tontos que acredita
Que a cobiça é mais bonita
Que um riacho e um banzeiro
E veio gente de tudo que é lugar
Não se pode apagar o que a febre da borracha nos fez
Vomitaram a mesma ladainha
Que a Fordlândia traria
Ares de prosperidade
Buscavam almas, passaradas, utopias
Eram aves de rapina, outra vez era miragem
Sou Munduruku de Karusakaibê
A semente de urucum, sou mais um pra defender
Flecha derradeira de guerreiros paiksés
Pelas matas, sou madeira, e das águas, as marés
Olhos de fogo, labaredas e dragões de ferro
Maquinário sanguinário pelo vil metal
Ponteiros ensandecidos por dinheiro
Ferrugens, entranhas do mal
Mas gota de jurema, impuros não bebem
O ventre da mãe terra se impõe, eles somem
As chagas me sangram a pele
Não valem o prato que comem
E cercam de novo meu chão pra garimpo
Pressinto e já começo a salivar
O marco não marca meu povo, iremos lutar